O que era para ser uma noite de sono tranquila se transformou em dor e preocupação para um morador de Poá, em São Paulo, depois que ele foi picado por uma aranha-marrom enquanto dormia.
Como consequência da picada da aranha, que mede no máximo 4 centímetros, Wilker Guimarães precisou amputar um dos dedos da mão direita. Cinco meses após a amputação, ele conta ao BHAZ os desafios físicos, emocionais e financeiros que enfrenta.
Muita gente não sabe, mas a aranha-marrom possuí veneno fatal. A loxosceles, nome científico da aranha, ataca quando se sente ameaçada. Segundo o Instituto Butantan, o veneno da aranha-marrom pode causar necrose da pele, falência renal e levar à morte. Wilker relata que, inicialmente, a picada não doeu tanto.
Picada indolor, sintomas graves
“Na hora não doeu muito, a picada é bem levinha mesmo, mas tenho sono leve e acordei. Começou a latejar incessantemente pouco depois, passei a sentir tremedeira, ânsia de vômito, a dor foi intensificando que lacrimejei sem vontade de chorar,” relembra ele, que morava em um apartamento em Praia Grande, onde foi picado. A partir de então, ele viveu dias complicados.
“Esses aracnídeos podem ser encontrados tanto na natureza como ao redor e no interior de residências nas áreas urbanas, como em materiais de construção acumulados, forros de telhados, atrás de móveis, fendas entre tábuas, rodapés e estrados de camas”, explica a especialista da Funed (Fundação Ezequiel Dias), Luana Varela.
No caso de Wilker, ele acredita que uma dedetização na área externa do prédio pode ter levado a aranha-marrom a se abrigar no apartamento em que morava. Segundo conta, a mãe dele encontrou pelo menos 20 aranhas da espécie no imóvel, que também passou por dedetização após a picada sofrida por ele.
Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde registrou 1.231 ocorrências de picadas de aranha-marrom nos últimos três anos. As cidades com maior incidência no estado são Belo Horizonte, Manhuaçu e Pouso Alegre. Na capital mineira, a Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) é referência no atendimento de casos de picadas de animais peçonhentos. “Como são pequenas, essas aranhas podem entrar também em roupas, toalhas e em calçados. Os acidentes podem ocorrer quando esses animais são comprimidos contra o corpo”, alerta Luana.
‘A gente nunca imagina passar por isso’
Wilker foi por duas vezes a um posto de saúde e não conseguiu atendimento adequado. Ele relata ter acionado a justiça, já que considera ter sido vítima de negligência na unidade. Especialistas orientam que, em caso de picadas de arranha-marrom, as pessoas devem procurar os serviços de saúde o mais rápido possível.
“Fizeram o tratamento com antibiótico e para dor, o médico então confirmou que teria que amputar pelo menos metade do dedo. Minha mão ficou muito roxa, corria o risco de perder metade da minha mão,” explica. Segundo conta, a amputação evitaria a disseminação do veneno. “A gente nunca imagina passar por isso. Só queria arrancar logo [o dedo] para passar a dor, uma dor incessante. Fiquei à base de remédio, oito remédios por dia”, diz.
Desafios diários após a amputação
A maioria dos acidentes envolvendo picadas de aranha-marrom são classificados clinicamente como leves. No entanto, a demora no atendimento médico e soroterápico pode agravar os sintomas e aumentar os riscos de letalidade. Segundo a Secretaria de Saúde de Minas, casos mais raros, em que a picada de aranha-marrom evolui para necrose, não são registrados no estado há cinco anos.
Após a amputação do dedo, Wilker precisou reunir forças para se adaptar à situação. Ele conta que os impactos são físicos e emocionais, além de financeiros, já que não conseguia mais desempenhar as funções como garçom. “Os primeiros meses parece que você é inútil, que não consegue fazer coisas básicas que faria, não conseguia colocar a roupa, fora a estética”, diz. “A gente tem que ir se adaptando, cuidando do físico e do mental. A dor fantasma existe, tenho até hoje sensação de queimadura, inchaço, coceira, e tudo na parte onde não tem mais o dedo”, relata.
A Síndrome do Membro Fantasma é definida pelos especialistas como a percepção de como se ainda existisse um membro que foi perdido por amputações acidentais ou intencionais. Trata-se de uma condição neurofisiológica, onde a parte amputada desmembra-se do corpo, porém não do cérebro.
Apoio da família e de amigos
Para pagar o tratamento e as contas, já que ficou sem emprego, Wilker abriu uma vaquinha online. Ele arrecadou a meta estabelecida e reabriu o link de doações a pedido de amigos e conhecidos. “Fiquei sem pagar as contas, eu era freelancer, trabalhava como garçom por dia para gerar alguma renda. Consegui um valor até que legal com a vaquinha para conseguir pagar o aluguel, me manter e fazer o tratamento”, diz.
“No começo, após a picada e a amputação, eu estava receoso com tudo. Você tenta dormir, mas não dorme, fica com receio de acontecer novamente, fica olhando qualquer lugar. Mas eu acho que aos poucos eu vou me adaptando. O apoio da família para lidar com a carga emocional é mais importante que o financeiro”, relata.
Identificação da aranha-marrom
Wilker enfatiza a importância da conscientização sobre a aranha-marrom, que é pequena e facilmente passa despercebida. “Muitas pessoas não conhecem a aranha marrom, pensam que é grande, que dá medo realmente, mas é mínima. Às vezes a gente não percebe achando que é qualquer bichinho”, diz.
Aranha-marrom (Léo Noronha / Funed)
Segundo especialistas, as arranhas-marrons são conhecidas pelo padrão de coloração marrom a amarelo-acinzentado. Elas possuem seis olhos dispostos em três pares, têm o cefalotórax (parte anterior do corpo) levemente achatado e apresentam uma mancha escura característica, lembrando o formato de violino nesta região.
São pequenas, atingindo até cerca de 4 centímetros de comprimento com as pernas esticadas, sendo que os machos são menores e possuem as pernas mais longas do que as fêmeas. Além disso, produzem teias irregulares e dispersas, parecidas com algodão.
Wilker alerta para o cuidado redobrado, especialmente com crianças que podem não conseguir expressar o que sentem após uma picada de aranha-marrom. “O que eu deixo de visão é que as pessoas se preocupem um pouco mais, principalmente com as crianças. Tive como correr, fui para o médico, sei falar o que sinto, uma criança não consegue expressar que o bicho que picou, qual é a dor e tudo mais”, explica.
Tratamento e como prevenir ataques
O tratamento mais eficaz após a picada de aranha-marrom, segundo a Secretaria de Saúde de Minas Gerais, é a administração do soro antiaracnídico disponível em todo estado. Dados experimentais revelam que a eficácia da soroterapia é reduzida após 36 horas no loxoscelismo cutâneo, e até o momento não há evidências de que o antiveneno, também chamado de soroterapia, tenha efeito após 48 horas da picada.
A Funed recomenda as seguinte medidas para prevenir acidentes com a aranha-marrom:
• Evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas e lixo;
• Inspecionar roupas, toalhas e calçados antes de usá-los;
• Vedar frestas e buracos em assoalhos;
• Manter ralos de cozinha e de banheiros fechados;
• Afastar camas e móveis das paredes;
• Não colocar as mãos diretamente em pedras ou troncos podres.
Do BHAZ com Agência Minas Gerais
Sete Lagoas Notícias
FIQUE BEM INFORMADO, SIGA O SETE LAGOAS NOTÍCIAS NAS REDES SOCIAIS:
Twitter - X
https://twitter.com/7lagoasnoticias
Instagram:
https://www.instagram.com/setelagoasnoticias
Facebook: