“Como professora e administradora escolar, adquiri o hábito de pensar as pessoas como fontes maravilhosas de sentimentos e reações nem sempre expressadas de forma fácil de se compreender. Continuo convivendo diariamente com as crianças, embora em doses homeopáticas (risos). Das turmas com 30, 35 por hora em sala de aula ou até de 1200 por dia na direção de escola, passei a dois diariamente, meus netos, um com quatro e outro com dez anos. Com eles ainda aprendo a ver o mundo como algo mágico que se oferece para ser desbravado. Com os adultos procuro exercitar a compreensão e aprender a força de se lidar com a realidade”
MEU JARDIM
A jardinagem ou mesmo o cuidar de vasos cultivados, seja dentro de casa, nas varandas, sacadas, janelas - ou onde quer que encontremos um espacinho que permita a sobrevivência viçosa e alegre das nossas plantas escolhidas e preferidas - é sempre um prazer e uma terapia. Transformar o ambiente em que vivemos não só em um lugar mais bonito, mas principalmente no lugar em que queremos e gostamos de ficar.
Estudar a composição da terra com o adubo, o substrato apropriado, usar ou não minhocas, preparar e compor aquele pequeno ecossistema, selecionar as mudinhas, procurar a cor e o aroma, escolher o lugar mais adequado que forneça a quantidade correta de luz e calor. E é também brincar com a estética, encontrar como e em que posição daquele lugarzinho determinado o vaso escolhido se destaca e embeleza mais.
Toda esta atividade em torno de um objetivo concreto, em que os nossos sentidos são chamados a participar, nos estimula e faz com que nossa mente também se volte para alguns questionamentos bem práticos sobre o nosso “jardim interno”. E aqui eu cito uma das frases preciosas do grande Guimarães Rosa, um dos mestres do sentir humano que sempre me vem acudir quando as minhas próprias palavras não conseguem alcançar o que sinto. Ele disse em uma passagem do seu genial livro Grande Sertão: Veredas: -“Conto ao senhor, é o que sei e o senhor não sabe; mas principal quero contar é o que não sei se sei , e que pode ser que o senhor saiba.”
O que estamos fazendo no cuidado com o nosso próprio jardim? Estamos sendo bons jardineiros, amorosos e atentos a todas as nossas necessidades verdadeiras? Estamos vigilantes, atentos para não descuidar e alertas para não permitir o avanço e a proliferação de ervas daninhas? Estamos sendo realmente o nosso jardim ou nos transformamos em um terreno baldio, prejudicado por abandono e omissão, terra devoluta onde se pode jogar entulho, lixos e descartes e só o que nasce são plantas parasitas e predatórias?
Eu me lembro sempre de algumas pessoas que me passaram este amor pela jardinagem e, nestas lembranças, o reforço de alguma aprendizagem preciosa. Ensinamentos que me chegaram não só com palavras, mas principalmente nas ações de quem generosamente se doava ao praticá-las. O exemplo vivo de que árvore não nasce pronta.
Há que se cuidar da terra e da semente, fortalecer o broto e dar proteção na fase de fragilidade e depois deixar a árvore crescer e amadurecer para que ela também possa dar as suas flores e os seus próprios frutos... É o ciclo maravilhoso e mágico da vida: - Novas sementes nascerão e suas árvores frutificarão, basta que respeitemos e aprendamos com a sabedoria da natureza.
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